Neste gravíssimo momento que vivemos, o acirramento dos debates, discussões, conflitos e até das agressões, entre políticos, parentes, amigos, enfim entre pessoas de todas as correntes de pensamento, ideologias, etc., permeia todos os ambientes da nação. É importante evidenciar que estou cumprindo o isolamento social, imposto pelas circunstâncias, orientações e decisões das autoridades da minha cidade, do meu estado e do país, bem como, das instituições com as quais mantenho vínculos profissionais, pois, acima de tudo, tenho responsabilidade para com a minha vida, da minha família e dos meus semelhantes, uma vez que me enquadro em um dos maiores grupos de risco, tenho 60 anos, sou diabético e hipertenso.
Estou trabalhando em regime de teletrabalho (home office), há cerca de uma semana, e neste período tenho procurado aproveitar e otimizar todo o tempo em ambiente doméstico para, além do trabalho, com suas limitações naturais decorrentes, me manter o máximo possível informado, procurando conhecer, analisar e refletir sobre as mais diversas perspectivas e opiniões, mas, de forma prioritária, acessar publicações, estudos técnico-científicos, notas técnicas e similares editados por instituições responsáveis e respeitadas em níveis nacional e internacional. Por isso, quero expressar aqui algumas reflexões de modo a contribuir na busca do equilíbrio, a fim de evitar que entremos ou nos mantenhamos nesta roda vida, nesta verdadeira rosca sem fim.
A preservação da vida humana deve estar acima de toda e qualquer outra questão, sem, é claro, deixarmos de nos preocupar com os demais aspectos sociais e econômicos que se entrelaçam. Devemos evitar e ou minimizar os extremismos de todas as ordens. Devemos procurar nos manter o máximo possível equilibrados, serenos e informados a respeito das decisões e orientações emanadas das autoridades sanitárias das cidades, dos estados e do país (secretarias municipais de saúde, secretarias estaduais de saúde, ministério da saúde), em sintonia com o que se desenvolve ao redor do mundo (Organização Mundial de Saúde), pois assim estaremos mais aptos a tomar as necessárias decisões de âmbito pessoal, familiar, profissional e institucional. Devemos evitar e/ou minimizar os efeitos do debate político partidário e nos pautar no debate político propositivo para o estabelecimento de um ambiente de paz e união dos cidadãos, das instituições públicas, privadas e das autoridades governamentais, através de uma ação coletiva responsável.
As decisões do poder público nas áreas da saúde e economia, principalmente, mas extensivo a todas as demais, devem ser pautadas em estudos técnico-científicos e em harmonia, e devem ser tomadas à medida que a maior segurança e probabilidade de acerto for se configurando, e com monitoramento em tempo real. A firmeza das autoridades é imprescindível nesta hora, porém deve estar fundamentada na serenidade, na união de esforços, na palavra sem ódio ou rancor, aberta ao diálogo democrático, segura, e sobretudo propositiva no estabelecimento de um ambiente de paz.
Neste contexto, nós, cooperativistas, devemos mergulhar ainda mais na compreensão das nossas bases doutrinárias, princípios e valores e, com base nestes pressupostos, procurar pautar nossas condutas pessoais e como lideres, sejam aqueles de nós que têm responsabilidades à frente das instituições cooperativas, de todos graus e instâncias, ou aqueles que têm responsabilidades profissionais, acadêmicas, sociais etc. Por isso, é fundamental que nos mantenhamos unidos através do que verdadeiramente nos une, o cooperativismo. Façamos a nossa parte e sejamos proativos enquanto durarem as medidas de isolamento social e/ou restritivas de todas as ordens, e após o encerramento e ou flexibilização das mesmas. O isolamento social, por mais duro que seja, embora neste momento, segundo as autoridades sanitárias, extremamente necessário, não nos impede de atuar e agir, embora com limitações.
O cooperativismo, difundido universalmente, através da coordenação da Aliança Cooperativa Internacional (ACI) desde 1895, quando foi constituída, congrega hoje cerca de 3 milhões de cooperativas no mundo, com mais de 1,2 bilhão de cooperados. Essa dimensão nos permite compreender o importante papel a desempenhar, a força da nossa união e a possibilidade de mobilização e ação do cooperativismo. Sejamos uma das mais relevantes forças motrizes nesta hora, como tem ocorrido em diversos momentos na história contemporânea da humanidade. Assim, exerceremos um papel fundamental para fazer prevalecer o equilíbrio e a ponderação através de ações solidárias e fraternas, porém firmes e assertivas na busca de soluções adequadas para mitigar tanto os efeitos sociais quanto econômicos, resultantes da pandemia de coronovirus no Brasil e no mundo.
Para que reafirmemos nossas convicções é importante relembrar as bases doutrinárias e os princípios cooperativistas:
Bases doutrinárias: valorização da pessoa humana; liberdade, igualdade e justiça social; cooperação; autoajuda; participação do sócio na cooperativa; identidade dos sócios.
Princípios cooperativistas: adesão livre e voluntária; gestão democrática pelos sócios; participação econômica dos sócios; autonomia e independência; educação, formação e informação; cooperação entre cooperativas; interesse pela comunidade.
Termino este artigo com a frase do grande líder cooperativista, o professor Roberto Rodrigues, ex-presidente da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), maior organização não governamental do mundo, ex-ministro da agricultura e atual embaixador especial da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) para as cooperativas: “Cooperativismo, caminho para a democracia e a paz.”