Um balanço do cooperativismo em 2020 e as expectativas para 2021. Estes foram os temas da última edição da live CoopCafé, realizada em dezembro. O tema em pauta foi debatido por um time composto por dirigentes do Sistema OCB representando cada região brasileira.
Como convidados, o presidente do Sistema OCB/MT, Onofre Cezário Filho, representando a região Centro-oeste; o presidente do Sistema OCB/RO, Salatiel Rodrigues, representando a região Norte; representando a região Nordeste, o superintendente do Sistema OCB/PB, Pedro Albuquerque; representando a região Sudeste, o presidente do Sistema OCB/RJ, Vinicius Mesquita; e representando a região Sul, o presidente do Sistema Ocergs, Vergilio Perius.
A apresentação, mais uma vez, ficou a cargo do jornalista Cláudio Montenegro, editor executivo do portal e revista BR Cooperativo, apresentador do programa de rádio CoopCafé e presidente da Cooperativa dos Profissionais de Comunicação e Marketing (Comunicoop), responsável pela produção da live e do portal.
A live CoopCafé foi transmitida pelo canal do YouTube do portal BR Cooperativo (/portalBRcooperativo) e na página do Facebook (@portalbrcooperativo).
AgroCoop Internacional
Em sua apresentação, o presidente do Sistema OCB/MT, Onofre Cezário Filho, fez um balanço do ano em sua região e sua participação como representante do Sistema OCB na Aliança Cooperativa Internacional (ACI).
“Começamos um programa chamado ‘Conversando com as cooperativas’, com o qual iremos visitar as 162 cooperativas do estado. Já o fizemos em dois segmentos: transporte e mineral, percorrendo 10 mil km e devemos percorrer os 30 mil km de Mato Grosso, discutindo dois assuntos: sistema OCB e o negócio do segmento.
No âmbito da Aliança Cooperativa Internacional, estamos com um projeto que é a Rede Educativa Cooperativa, que deverá ser incluído no comitê da entidade em 2021. E também estamos programando, se a pandemia permitir, para julho, o AgroCoop Internacional em Cuiabá. Na ocasião, teremos uma reunião dos membros da ACI, uma reunião do comitê agrícola e também a participação da rede do Mercosul na agricultura, com representantes do Brasil, Uruguai, Brasil, Paraguai e Argentina. Está prevista uma semana de visitas às cooperativas do agro, e outras dos sistemas de crédito e saúde. Serão dois polos de visitas: um na cidade de Sorriso, capital mundial da soja, e outro em Campo Verde, capital brasileira do algodão. Além disso, provavelmente o presidente Márcio Lopes de Freitas trará uma reunião do seu conselho diretor para complementar toda esta semana cooperativista brasileira e internacional.
Teremos três assuntos em pauta: conhecimentos, negócios e sustentabilidade, num projeto que trará cooperativas europeias e mundiais de consumo, junto com as nossas cooperativas brasileiras, para discutir toda a cadeia, desde a produção até o consumo. Em paralelo a essas mesas, vamos fechar uma intenção de parceria com uma federação indiana de fertilizantes e também na educação com a Coreia do Sul.
Destaco ainda a criação de dois comitês no MT, um comitê técnico pelos nossos executivos, escolhidos nos nossos segmentos, e o comitê institucional que auxiliará o conselho de administração, para que façamos o melhor possível para as nossas cooperativas e para os nossos cooperados”, relata o dirigente.
Desafio amazônico
Segundo o presidente do Sistema OCB/RO, Salatiel Rodrigues, produzir e preservar o cooperativismo na Amazônia é um grande desafio. “No balanço de 2020, que foi um ano diferente para todos, as cooperativas do estado de Rondônia deram exemplos de como conduzir o processo na saúde e na economia. Lançamos uma cartilha em parceria com órgãos de representatividade, como Sebrae, Federação de Agricultura, Senai, Federação da Indústria, Fecomércio, dentre outros. Com apoio do Sicoob e da OCB, focamos nessa cartilha a educação financeira, sendo lançada nas escolas públicas municipais e estaduais, com 25 mil alunos contemplados em cerca de 50% dos municípios de Rondônia.
Outro grande projeto de destaque é o Rodocoop Agro, em parceria com o Ministério da Agricultura, em que nossos técnicos da OCB e do Sescoop vêm visitando as cooperativas e certificando seus produtos. O extrativismo é o forte de nossa região, com cooperativas produtoras de castanha, cupuaçu, açaí e até café. Temos uma cooperativa indigena que vende seus produtos para a Três Corações, um café de alta qualidade.
Tivemos várias lives conscientizando as pessoas, falando sobre o tratamento precoce, que salva vidas. Com isso, elogiamos o trabalho das Unimeds, dos médicos, enfermeiros auxiliares, todos que têm sido protagonistas nesta pandemia.
E onde o cooperativismo se faz presente, o progresso vai junto. A construção da BR-319 liga a capital Porto Velho a Manaus (AM), que tem um polo consumidor muito grande dos produtos de Rondônia, mas também beneficiará o Amazonas, que tem a produção da zona franca de Manaus. Para nossa felicidade, foram licitados mais 52 km de pavimentação asfáltica. Isso é o cooperativismo fazendo o seu sétimo princípio, que é o interesse pela comunidade. A duplicação da BR-364 é outro processo iniciado pela OCB Rondônia, é a ponte que liga o estado do Acre a Rondônia, num trajeto que hoje ainda é feito por balsa, é a ponte do Rio Abunã, que liga Porto Velho a Rio Branco, ou seja, é construindo pontes literalmente.
Outra grande conquista foi a carta sindical da Federação das Cooperativas da Região Norte (Fecoop Norte), que reúne todos os estados da região – à exceção de Tocantins, que pertence à Fecoop Centro-oeste.
O Sistema OCB/Sescoop Rondônia aprende muito com as regiões Sul, Sudeste, Centro-oeste e Nordeste. Vamos continuar avançando na questão do cooperativismo, produzindo e preservando a Amazônia”, destaca Salatiel.
Aprendizado como legado
O superintendente do Sistema OCB/PB, Pedro Albuquerque, conta que a OCB fez um trabalho fantástico de representação institucional e sindical, o que deu maior segurança com relação às cooperativas da Paraíba. “Esse foi um ano atípico para todos nós, em todo o Brasil. Dessa forma diferente, virtual, começamos a trabalhar com nossas 130 cooperativas de todos os ramos de atividades, dentro daquilo que é disposto pelo Sescoop, principalmente da formação, de monitoramento e da promoção social. Retomamos nossas atividades de forma virtual e, para nossa surpresa, principalmente na área de formação, tivemos um aumento do público em eventos de capacitação e formação profissional de forma online. Até hoje estamos conseguindo fazer ações nesse novo formato, fizemos algumas lives por ramo para poder planejar 2021, entendemos que nessa reestruturação para 2021 a gente vai continuar fazendo este trabalho de forma virtual, até semipresencial.
E o que mais se evidenciou nesse processo foram as ações sociais. Várias cooperativas paralisaram suas atividades produtivas, porém, com a ajuda mútua das cooperativas de crédito e de saúde, houve uma grande mobilização, com doações de cestas básicas e equipamentos de EPI. Sob essa ótica, a pandemia possibilitou uma cooperativa ajudar a outra.
Temos duas centrais de crédito fortes, uma do Sistema Sicoob, que representa a região nordeste, e outra do Sistema Sicredi, com a central das regiões norte e , que fica aqui na Paraíba. Temos a cooperativa de crédito Sicredi Evolução, que hoje é a maior de crédito de livre adesão do nordeste, uma das maiores do Brasil, e que tem feito um trabalho espetacular de ajuda mútua com as demais cooperativas, principalmente os cooperados que passaram dificuldades nesta pandemia.
O Ministério da Agricultura criou recentemente o projeto de intercooperação com cooperativas do Nordeste, classificando 24 cooperativas do ramo agro, para trabalhar em parceria com algumas cooperativas do centro-sul do Brasil. Tivemos cinco cooperativas contempladas nesse projeto, e estamos muito entusiasmados, pois isso demonstra que nossas cooperativas estão realmente melhorando suas ações, seus projetos, suas gestões. Isso vai nos dar um futuro e uma perspectiva muito boa para o agro do nordeste como um todo.
Também fizemos algumas parcerias com o Governo do Estado, como o fórum Empreender Paraíba, que financia ade, mas também nos deixou um legado de aprendizado muito grande, para que possamos praticar cada vez mais o cooperativismo em nossa região”, avalia o superintendente.
Berço do cooperativismo
Aqui no RS, temos quatro ramos muito fortes. O agro, com quase 40 mil empregos, faturamento perto de R$ 38 milhões e 343 mil associados, é um setor muito importante neste momento. No crédito, temos 3 milhões de sócios, com mais de 1 milhão de associados. Isto representa no total, se multiplicarmos por dois, a metade dos gaúchos e gaúchas são do cooperativismo, ou seja, o que eu sempre digo aos nossos governadores, o Rio Grande hoje é um estado cooperativista.
Santa Catarina e Paraná têm valores praticamente equivalentes, e os três estados do Sul somam 46% de contribuição cooperativista à OCB e 45% do Sescoop Nacional.
No setor de cooperativas fortes como carro-chefe do Rio Grande do Sul é o terceiro ramo, de infraestrutura de eletrificação rural, que hoje leva internet via fibra ótica pelas redes elétricas ao interior do estado, que já tem 55 mil produtores rurais atendidos dessa forma, com internet e telefonia, e com isso o jovem permanece no campo. Tem novas PCHs, produção de energia própria e o mais importante: 25% dessa energia gerada pelas próprias PCHs são destinadas à ligação ainda dos 70 mil produtores rurais pequenos, que não têm energia bifásica ou trifásica. A cada ano aumentamos 10 a 15 mil produtores rurais com energia forte, trifásica, pelas cooperativas de eletrificação rural.
Outro setor é a saúde, muito organizado com 28 cooperativas, com um faturamento muito expressivo com mais de 10 mil empregos. O setor médico tem uma nova agroindústria que descobriram, os novos hospitais próprios, são nove hospitais próprios, cinco hospitais dia e uma infinidade de convênios com outros hospitais. A Unimed no Rio Grande do Sul é uma referência, tem à disposição 21 mil médicos para os gaúchos e gaúchas.
O ramo que mais cresce nesse momento, o quinto colocado, é o transporte, que tem mais de 10 mil carretas, 11 mil motoristas associados em cooperativas de transporte de cargas, que se sentem muito seguros pelo sistema de assistência que recebem através de uma central de cooperativas, de forma imediata e atendendo qualquer emergência que se encontra o nosso motorista.
Outro ramo que vem crescendo muito é o de cooperativas de trabalho, agora também vinculado com as cooperativas educacionais e habitacionais, é um setor que está crescendo e vai crescer muito. O setor de consumo, notadamente na área de medicamentos, com número de sócios muito elevado, também vem crescendo bastante.
São esses sete ramos que fazem crescer o Rio Grande do Sul, com mais de R$ 2 bilhões de tributação.
Mas pergunto: como será o nosso futuro daqui para frente? Que setores da economia o cooperativismo terá que perseguir a unhas e dentes, para oferecer mais mão de obra para 40 milhões de brasileiros que estarão em janeiro sem trabalho e sem renda? Esta é uma triste realidade, os cofres públicos federais não vão suportar, a não ser o bolsa família para 17 milhões de brasileiros, mas serão 40 milhões de brasileiros que irão ficar sem trabalho. O que fazer?
Temos um Brasil imenso com muitas áreas, muita terra, muita área para montar agroindústrias, como fizeram Espanha e Portugal na crise de 2003, fazendo novas agrovilas, e as indústrias se aproximaram daquelas agrovilas. Portanto, a construção horizontal é um grande projeto que depende única e exclusivamente de uma política pública do Governo Federal. Já demos conhecimento desse projeto ao Senado Federal, à Câmara Federal, ao Poder Executivo e estão estudando. Tenho muita esperança de que o governo tenha uma visão diferente do problema que está havendo na construção civil, que precisa de casas de 50 m², com toda infraestrutura e todo saneamento. Isso é possível fazer com cooperativas.
Temos tudo para crescer, e se, em 1626, 50 mil indígenas guaranis construíram o berço do cooperativismo em nosso continente, com 30 cooperativas na sua região – Argentina, Paraguai e Brasil -, por que nós não seremos capazes, depois de tantas experiências, de construir o mesmo modelo de desenvolvimento econômico que eles tinham, que era auto-sustentável? É isso que desejamos a todos vocês”, pondera Perius.
Reconstrução
Mesmo neste momento de incerteza, com os governos federal e estaduais colocando a questão sanitária e da recuperação econômica em primeiro lugar, temos uma grande chance de avanço aqui no Sudeste através do cooperativismo. Até porque nas crises há uma tendência de crescimento do cooperativismo, então temos que aproveitar essa crise como oportunidade.
Aqui no Sudeste começamos com um movimento que traz um elemento, que é um princípio nosso, a intercooperação, para as nossas instituições OCBs. Estamos estruturando algumas ações de aproximação com as demais, no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, e a ideia é justamente economizar recursos, porque uma ação sendo realizada por um estado pode ser implementada no estado vizinho.
Já tivemos reuniões com alguns superintendentes, acertamos com os presidentes para definir os processos e também uma aproximação política que era necessária, pois o Sudeste pouco se falava. Hoje temos traçado pautas em comum e temos chegado a um senso comum. Esse é o grande ganho do Sudeste, que vai gerar contribuições que também vão poder ser aproveitadas nacionalmente.
No Rio de Janeiro, nós, que temos dois anos à frente do Sistema, temos buscado exemplos em todo o Brasil, fica aqui o meu agradecimento aos demais presidentes que eu estive. Nossa ideia é de reconstrução, pois é perceptível nacionalmente que o Rio de Janeiro parou no tempo em relação ao desenvolvimento do cooperativismo, e tínhamos a percepção de que a OCB tem que ser um instrumento de aproximação das pessoas, de levar à sociedade o empreendedorismo cooperativo como uma possibilidade de se estruturar economicamente.
Tomamos algumas iniciativas que vão levar a esse crescimento e irão render bons frutos. Tiramos a OCB de onde estava há 48 anos e a colocamos em uma nova sede, no grande centro financeiro aqui do Rio de Janeiro, na rua da Quitanda, de frente para a rua para todo mundo ver e perceber o cooperativismo de nosso estado.
Também estamos indo para as mídias, com a primeira grande campanha começando em 4 de janeiro nas grandes redes de televisão daqui do Rio de Janeiro, como Globo e Record, e várias rádios também. Vamos mostrar as possibilidades de organização através da cooperação, que é um instrumento que vivenciamos em toda a sociedade, porque é algo inerente ao ser humano, a cultura da cooperação, mas conseguimos construir através das nossas cooperativas um modelo econômico que precisa ser passado para as pessoas da sociedade, para que elas o percebam e possam adentrar ao cooperativismo, para aumentar o nosso número de pessoas envolvidas no Rio de Janeiro.
Temos um crescimento hoje muito grande no crédito e uma recuperação das cooperativas agropecuárias. O estado por um bom tempo esqueceu que tinha campo aqui no Rio de Janeiro, como se houvesse só cidade. Temos provocado muito o governo do Estado para uma política que ajude no desenvolvimento do interior, com foca no cooperativismo, o que tem sido um grande desafio, porque política aqui no Rio de Janeiro é algo complicado. O bom é que os cariocas e os fluminenses têm uma capacidade de resiliência muito grande. Perdemos o governador no meio do mandato, então estamos tendo que reconstruir toda uma aproximação com o governo do Estado novo que assumiu, mas tem sido algo muito positivo, pois tivemos uma conversa prévia com os governantes antes mesmo disso acontecer, então isso abriu as portas.
Tivemos uma eleição agora no município do Rio de Janeiro, e a secretaria de desenvolvimento econômico do município do Rio foi destinada ao presidente da nossa Frencoop Fluminense, que é o deputado estadual Jorge Felipe Neto, o que vai possibilitar que o cooperativismo mantenha um papel importante na retomada econômica do município. Esse inclusive foi o compromisso estabelecido pelo prefeito eleio Eduardo Paes, e o convite ao Jorge Felipe foi muito pelo papel dele nessa defesa do cooperativismo, porque a campanha entendeu que o cooperativismo era sim uma possibilidade de ser levada em conta nessa retomada aqui do Rio de Janeiro.
A grande vitória da OCB Rio de Janeiro nesse ano foi a virada para o digital. Assim que tivemos os primeiros lockdowns por aqui, imediatamente viramos a chave para o digital, pegamos todas as nossas atividades e levamos para as plataformas. Tivemos todo trabalho de reunirmos com as cooperativas, digitalmente, mostrando como operar os cursos, como vivenciar essa experiência, e tivemos um crescimento muito grande, conseguimos bater todas as metas estabelecidas de formação do Sistema OCB/Sescoop de 2020.
E vamos replicar isso como algo que vai permanecer ao longo dos anos aqui na nossa OCB/RJ, tendo as nossas formações, mesmo que presenciais, também com operação no digital”, define Mesquita.