Entrevista com o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas.
BRC – Qual cenário o cooperativismo brasileiro deverá encontrar após esse longo período de pandemia e isolamento social?
Acredito que o cenário que vamos encontrar é de um mundo em transformação, os hábitos do mundo estão mudando, os tecidos da sociedade estão se alterando, mudando a textura. Há uma revolução natural de gerações, quem está assumindo posições são gerações mais novas, então o mundo está em transformação, é o mundo em evolução, e é o mundo que, sem dúvida alguma, exigirá de nós processos muito maduros. Acho que exigirá de todos nós, pessoas físicas, para se ajustar a isso, e pessoas jurídicas, como empresas, os negócios terão que se ajustar. Acredito que esse novo normal vem com muita mudança, muita transformação, muito fora das antigas caixas e teremos que estar preparados para ele.
BRC – E a pandemia só realça a necessidade de usar a tecnologia que já está disponível?
Sem dúvida. Acho que a pandemia só acelera um processo que já estava acontecendo. O que temos que fuçar no fundo do baú, para levantarmos coisas novas, recriarmos, ousarmos, aproveitar do nosso conhecimento e nossa educação, formal e informal, para poder inovar em primeiro lugar. Inovação é uma palavra de ordem nesse momento, a inovação no sentido grande da palavra, criação de novas oportunidades, botar as ideias novas em prática e exercê-las. A inovação é fundamental.
O segundo tema que eu acho fundamental, segundo eixo comportamental nesse cenário, é a integridade. As pessoas querem integridade, querem confiança, a confiança é o insumo mais raro, mais escasso. Se você medir e colocar valor, a confiança hoje estará mais cara que o restante, porque está faltando na humanidade. Quem dá confiança, dá integridade, então as instituições, as empresas, as pessoas, terão que transpirar integridade. Esse é o segundo fator que acho que vai nos dar como pilar.
O terceiro, sem sombra de dúvida, nesse ambiente global de transformação chama-se sustentabilidade. Sustentabilidade eu estou falando da questão ambiental também, mas é uma sustentabilidade no sentido amplo, no sentido sucessório de novas gerações, no sentido econômico, no sentido social e também no sentido ambiental. Então, acho que esses três pilares nortearão nossas atitudes nesse novo normal.
BRC – Diante disso, como as cooperativas precisam se preparar para enfrentar esse novo tempo?
Pensar fora da caixinha, abrir as cabeças, estudarem, inovarem, não colocarem bloqueios, não voltarem a antigos paradigmas, mais do mesmo não vai nos levar para lugares diferentes. Vamos usar a nossa força da tradição, dos conceitos que adquirimos nas nossas vidas, mas vamos usar isso com base educacional com um salto de inovação. Acho que você usar a inovação, quebrar paradigmas, não tem a ver com ruptura do passado, tem a ver com você se estruturar na plataforma da sua história, para dar um salto de qualidade e de inovação para frente.
BRC – Nesse ambiente de pós-pandemia, como você vê o papel das frentes parlamentares, tanto nacional como as estaduais e municipais?
Acho que vão ser relações um pouco diferentes. Com o legislativo, principalmente, vamos ter que ter novas maneiras de nos relacionar com os nossos parlamentares. Agora é uma câmara muito mais virtual, já estamos experimentando isso aqui na OCB durante esse período, onde o congresso nacional tem feito reuniões virtuais, e nossa assessoria parlamentar e nossa gerência institucional têm conseguido navegar muito bem nesse espaço, assessorando de uma maneira muito técnica e rofissional os nossos parlamentares. Isso foi a vantagem de estarmos com a assessoria profissionalizada. Acredito que isso vai atender uma profissionalização maior no processo de assessoramento político. Vamos ter que modernizar isso, os parlamentares irão entender isso, e os mesmos processos onde vou devolver visibilidade ao parlamentar, será de uma maneira menos presencial, muito mais virtual, usando mais mídias sociais e outros canais de comunicação, do que os tradicionais palanques e discursos.
BRC – Qual é a sua mensagem para as cooperativas nesse momento?
Primeiro o meu pesar e os meus votos de lamento a todas as perdas que tivemos, em todo o movimento cooperativista. São milhares de pessoas que se contaminaram, que estão tendo problemas de saúde, outras infelizmente nos deixaram devido ao problema sanitário, isso é lamentável, nós lamentamos muito. Lamentamos também nossas cooperativas que sofrem problemas decorrentes da paralisação e do afastamento, temos esse problema agravado em muitos setores do cooperativismo. Mas a vida continua, o sol surge todas as manhãs e vão surgir todas as manhãs, com transformações, com mudanças, com corações partidos ou cheios de esperanças, vamos ter que acordar de manhã e tocar a vida.
E é isso que eu digo para todo mundo, a vida recomeça todo dia, vamos olhar para o sol de manhã e vamos lutar para aproveitar esse espaço do sol que Deus está nos dando, vamos aproveitar a nossa vida, vamos realizar, porque o momento, sem dúvida alguma, é de mais oportunidade do que novos desafios. As cooperativas já venceram esses desafios, já se mostraram competentes. Vocês, cooperativistas, são competentes para enfrentar qualquer crise. Então, vamos enfrentar essas crises, esses novos desafios, como grandes oportunidades, para a gente fincar as bandeiras da cooperação e fazer com que o nosso cooperativismo ocupe espaços nessa sociedade moderna, transformada, que provavelmente vai trazer – vamos lutar para isso – mais felicidade para as pessoas.
Colaboração: Aurélio Prado/Sistema OCB.