Como sair das dívidas para sempre? Essa pergunta faz parte das preocupações de 72,9% das famílias brasileiras que gastam 60% do que arrecadam para pagar a credores, de acordo com os dados divulgados pela Confederação Nacional do Comércio (CNC).
Mas existe uma saída. É o que a orientadora financeira Myrian Lund, especialista com vasta atuação em coops de crédito e consultoria em programas televisivos como o Fantástico, da TV Globo, nos ensina neste post. Ela promete que, com suas dicas, nunca mais você terá problemas com credores.
Primeiramente, Myrian Lund, com sua experiência no setor, explica que cada tipo de dívida tem uma forma específica para ser trabalhada. São aquelas que nós facilmente contraímos, como a do cheque especial, do pré-datado, incluindo cartão de crédito, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestações de carro, etc. Ela explica como sair das dívidas em cada um desses casos.
Se você conhece alguém endividado e nessas condições, aproveite essas dicas e envie para familiares e amigos.
Quais são os pontos que podemos trabalhar para ter uma vida no ‘azul’ e não cair nessa armadilha? Como sair das dívidas já estamos na armadilha do crédito fácil?
Reveja a dívida com empréstimos consignados
De acordo com Myrian Lund, a primeira preocupação que devemos ter é em relação a empréstimos consignados. Ou aquele dinheiro que pegamos usando um imóvel como garantia.
“Essas dívidas que têm garantia de salário, ou imóveis, devem ser tratadas como prioritárias. Então, neste momento, não tem como abrir mão delas. Não dá para parar de pagar.
“ Então, o ideal é começar a ver onde a taxa de juros está mais barata. Tem muita instituição com juro baixo onde é possível fazer portabilidade. É hora de aproveitar para fazer essa transferência do empréstimo”.
“Aí você me pergunta: “Ah, Myriam, dá trabalho. Eu vou para qual instituição? E eu digo que você vai para onde tiver melhor condição e com a menor prestação possível.
“Não esquece de olhar o Custo Efetivo Total (CET). Porque ele contém todos os encargos, tributos, taxas e despesas de um empréstimo ou financiamento. Ou seja, os juros são apenas uma parte que compõe o valor da contratação de um serviço. O CET incorpora todos os custos”.
Como calcular o Custo Efetivo Total de uma dívida
Muitas vezes a propaganda informa que determinado serviço de crédito ou de financiamento tem custos baixos. São aquelas mensalidades de dezenas de meses para pagar a taxa pequena.
A propaganda deixa de informar o valor real do total da dívida que você está assumindo. Para saber o que realmente está pagando a mais, use a calculadora do Custo Efetivo Total.
Você pode calcular o Custo Efetivo Total de uma dívida através de sites financeiros. O mais fácil é procurar no Banco Central. Eles contam com a Calculadora do Cidadão. O sistema simula as situações do cotidiano financeiro.
O funcionamento é simples. Basta simular os valores das prestações. Além de fornecer informação sobre o custo de dívidas, também informa sobre ganhos futuros em aplicações financeiras.
Para acessar a Calculadora do Cidadão do Banco Central, clique aqui.
Como sair das dívidas: Faça uma planilha financeira
Você sabe qual é a sua capacidade de pagamento? O ato de fazer a planilha financeira permite que você veja quanto do seu orçamento você pode disponibilizar para a quitação dos outros empréstimos.
“Então, vamos fazer a planilha de outubro?. Mas não vamos olhar o passado. Vamos olhar agora o mês de outubro, o mês atual, o que a gente pode reduzir de despesa de modo a chegar no final do mês com saldo zero ou positivo. Vamos rever o uso do telefone, o débito automático, o uso da luz.Todas aquelas contas que são passíveis de negociação. E vamos olhar para o que é possível reduzir. Assim vamos poder negociar outros empréstimos e outros itens relativos à crédito pessoal”.
Nesse ponto, Myrian Lund faz uma ressalva. Os empréstimos que não tem uma garantia específica costumam ser mais caros. Mas também são os mais fáceis de negociar.
“Se você não pode pagar, a gente estuda uma forma de conseguir lidar com isso. É só você parar de pagar, momentaneamente, até estruturar uma forma de saldar a dívida. Mas não deixe de pagar as suas contas essenciais”.
“E outra coisa: Se você é um profissional, tem a sua empresa, a sua MEI, ou a sua empresa pelo simples nacional, nunca deixe de pagar imposto. a pior dívida é a de imposto. Esta é a pior coisa. Imposto tem que manter sempre em dia”.
Planilhas prontas
A web está cheia de planilhas financeiras. Algumas são pagas. Mas para quem está endividado e interessado em como sair das dívidas, nada melhor que começar um uma planilha gratuita.
Indicamos dois métodos. Um deles é a planilha disponibilizada pelo Google Docs. Basta ter uma conta no gmail. Com ela, entrar no Google Docs e, como bom internauta, acessar a aba ‘Planilhas’. Lá você terá como elaborar planilhas mensais, anuais, entre outras.
Outra planilha que indicamos é a disponibilizada pelo Sicoob Credimonte — uma cooperativa de crédito de Minas Gerais. Essa planilha conta com campos formatados que facilitam a compreensão.
Para baixar a planilha de controle financeiro pessoal do Sicoob Credimonte, clique aqui.
Mude a forma de usar o cartão de crédito
Vamos só dar uma paradinha aqui para fazer uma reflexão. A existem três conceitos de endividado. O que fez dívidas; aquele que diz não ter dívidas mas que fez parcelamento do lojista no cartão e o superendividado.
Myrian Lund explica esses três tipos de endividados e como sair das dívidas para sempre:
“Quando você faz parcelamento do lojista no cartão, mesmo não tendo juros, é uma dívida. Se você entrar no Registrato — cadastro do Banco Central contendo as dívidas com bancos e órgãos públicos, entre outros — você vai ver que tem uma dívida. Isso acontece porque você fez compras usando dinheiro de terceiros e que vai pagar nos próximos meses. E isso é muito ruim porque você está usando o dinheiro dos próximos meses para um consumo atual.
“Eu hoje não trabalho com prestações. Aí você diria: ‘Miriam, mas é o mesmo preço, à vista ou a prazo’. Mas eu pergunto: Então, pra que você vai fazer compra a prazo se você pode fazer à vista? Mesmo que seja o mesmo preço, faça a compra à vista. Desse modo você se libera dessa prestação. E aí você vai ver como o mês que vem vai ser melhor. É tão gostoso quando a gente tem mais dinheiro. A gente se dá um prazer, dá uma alegria, uma felicidade que não tem fim”, disse a orientadora.
A armadilha
Nessa altura, você ou seus conhecidos já caíram nessa armadilha e estão endividados com o parcelamento de compras. se acha que não vai conseguir se livrar disso, Myrian discorda:
“Eu digo que vai. É só começar a reduzir esse tipo de pagamento parcelado no cartão de crédito. Então, se você antes parcelava a conta da farmácia em três vezes, cada vez que ia lá, agora comece a parcelar em duas vezes. Depois de um tempo, você paga em uma vez só. Então, o que a gente vai fazendo é começando a reduzir esses parcelamentos. E nada de parcelar o Consumo, a compra de roupa, nada disso. Tudo que é consumo não se parcela. O que a gente parcela é aquilo que vai agregar valor para a vida. É um computador, uma televisão para minha casa. Se eu preciso de uma geladeira ou algo capaz de agregar valor à sua vida, aí sim, parcele. Tem algum motivo para você parcelar mas são poucas coisas, não há necessidade.
Então, esse é o primeiro ponto. Reduzir o comprometimento para os meses seguintes para a sua Felicidade.
Saiba como anda sua vida financeira pelo ‘Registrato’
O serviço online do Banco Central denominado ‘Registrato’ pode ser acessado de forma gratuita. Mas antes, o interessado deve ter uma conta na plataforma do governo federal, no site gov.br. Outra forma é registrar uma conta no próprio Registrato.
Para acessar o serviço do Banco Central, o Registrato, clique aqui.
Como sair das dívidas: Fuja do Endividamento em risco
O endividamento em risco é um conceito que foi criado pelo Banco Central para aquelas pessoas que têm crédito pessoal que tem cheque especial e às vezes ainda parcela o cartão no banco, faz o parcelamento dos lojistas. Quando chega no dia de pagar o cartão não consegue pagar o valor devedor total. Como solução, parcela a dívida na instituição.
“Isso se chama Endividamento em Risco. É uma categoria que está pertinho do superendividamento. Nesse momento, é hora de dar uma parada. Hora.de não fazer novas despesas para poder se livrar e começar a ajeitar a sua vida. É o momento de procurar uma instituição financeira, como por exemplo, uma cooperativa de crédito onde você não tenha cheque especial, não tenha crédito, não tenha nada. É aquela instituição financeira que você vai se ancorar”.
Para se livrar das dívidas
Para se livrar definitivamente das dívidas, Myrian Lund sugere uma mudança de hábito de consumo. Você pode começar transferindo o seu salário.
“Fazer a portabilidade do seu salário para sim usar da melhor forma para você. Por que, se você recebe salário em uma instituição bancária onde você tem cheque especial, o que vai acontecer é que o banco vai comer todo o seu salário. Então, não funciona. Você nunca vai conseguir acertar sua vida porque você recebe e o dinheiro vai embora. Por isso é preciso fazer a portabilidade para uma instituição que não tenha essas armadilhas. Cancele o cheque especial provisoriamente. Cancele o cartão de crédito. Não use o cartão nessa instituição. E aí você, com seu salário, vai pagar suas contas essenciais.
Não esqueça dos impostos
Myrian Lund lembra ainda que é preciso pagar todos os impostos e todas as contas bem como as prestações que têm uma garantia por trás onde você possa perder um bem. Essas são contas prioritárias.
“Tendo esse cuidado, agora você vai ver como conseguirá se organizar melhor. Se não der para pagar tudo, não tem jeito. Não pague tudo. Não adianta você pagar um pouquinho de cada coisa. É melhor você parar de pagar para se estruturar. E aí recomeça. Nunca deixe de atender uma instituição financeira. Explique para ela a situação que você está sem condições no momento, mas estuda uma forma de renda extra. Isso também é uma solução.
E esse problema é bem maior do que se imagina. De acordo com pesquisa do Banco Central do Brasil, houve crescimento na liberação de crédito para pessoas físicas nos últimos dez anos. Enquanto 19,9% dos correntistas tinham algum tipo de crédito, em 2020 este índice subiu para cerca de 28%.
O endividado em risco, para o Banco Central
Um estudo desenvolvido pelo Banco Central do Brasil define o que vem a ser a condição de endividamento em risco. A análise define esta condição para o tomador de crédito incluído em dois ou mais desses critérios:
- inadimplemento de parcelas do crédito, isto é, atrasos superiores a 90 dias no cumprimento das obrigações creditícias;
- comprometimento da renda mensal acima de 50% devido ao pagamento do serviço das dívidas;
- exposição simultânea às seguintes modalidades de crédito: cheque especial, crédito pessoal sem consignação e crédito rotativo (multimodalidades);
- renda disponível (após o pagamento do serviço das dívidas) mensal abaixo da linha de pobreza
Portanto, se você se vê em dois desses critérios, considere-se um endividado de risco.
E outra coisa: o Bacen considera o limite abaixo da linha de pobreza quem ganha menos do que US$ 5,50 por dia (Cinco dólares e meio, o equivalente a cerca de R$ 40, em países de renda alta. Entretanto, o IBGE considera a renda de R$ 439,09 em valores de 2019 como limite para definição da linha de pobreza no país).
Assim, os Juros param de crescer
A orientadora financeira explica ainda que quando você deixa de pagar ao banco os juros param de crescer.
“Enquanto você estiver pagando de pouquinho em pouquinho eles não param de aumentar. Entretanto, quando você deixa de pagar, os juros estacionam. Aí você vai ter que receber os telefonemas constantes, o que é uma desgraça, eu sei. É uma tristeza, mas o seu objetivo é liquidar a dívida.
“Então, a gente precisa agora fazer todo tipo de economia para ajustar o orçamento e tentar liquidar essa dívida em uma única prestação. Por exemplo, se você tem uma dívida de R$ 10 mil no cheque especial e conseguiu juntar R$ 1 mil, liga para a instituição e diz o que tem no bolso. Pergunta se consegue liquidar a dívida ou a prestação”.
Entretanto, caso a sua proposta de negociação da dívida junto às instituições financeiras seja negada, não desanime. Continue conversando e negociando, como alerta Myrian Lund:
“Uma negociação não funciona desse jeito. Eu levo uma proposta para o banco, que não aceita. O banco não aceita a negociação de primeira. Isto significa que você terá que fazer um ‘vai e volta’, um ‘bate e volta’. Volte lá com uma segunda proposta. Com uma terceira. Até que, numa hora, vocês vão conseguir fechar. Se você estiver sendo sincero”.
Alta de Juros no Brasil
A taxa real de juros no Brasil é bastante alta. E isso dificulta pessoas que buscam como sair das dívidas. De acordo com empresas de estatísticas financeiras,nós temos a segunda maior taxa de juros do mundo. Em resumo, perdemos apenas para a Turquia.
Para combater a elevação da inflação neste final de 2021, o Banco Central adota a mesma solução de anos anteriores — eleva a taxa de juros.
No final de setembro/21, a Selic estava em 6,25%. Desse modo, a taxa de juro real, aquela com desconto da taxa da inflação, é de 3,34%. Perdemos apenas para a Turquia, em que essa taxa real é de 4,96%.
Estratégias para o superendividado
A terceira modalidade de devedores que existe especialmente no Brasil é o superendividado. Myrian Lund explica que o Banco Central não reconhece essa denominação. E por um detalhe simples.
“O Banco Central não usa esse termo porque ele considera devedor apenas quem tem outras prestações em instituições financeiras. Assim, o BC não tem como acompanhar dívidas criadas com lojistas, com familiares e com outras pessoas.O endividamento em risco é quando você não consegue mais pagar suas despesas essenciais”
A sugestão para esses casos são semelhantes a dos outros tipos de endividados. Principalmente mudar para uma instituição financeira que não tenha cheque especial, cartão de crédito ou armadilhas para ampliação do endividamento. Porém, o superendividado conta com outros caminhos:
“Se você está numa situação extremamente complicada, independente do quanto você ganha ou qual é a sua renda, procure um Nudecon – Núcleo de Defesa do Consumidor, no seu estado. É lá na Defensoria Pública. Eles vão te dar uma orientação”.
“O detalhe é que eles não atendem apenas a quem tem baixa renda. Quando o caso é de superendividamento, eles atendem também pessoas com rendas variadas. Porque o superendividado tem uma situação traumatizante”.
A defensoria pública de cada Estado conta com o Núcleo de Defesa do Consumidor, que pode ser encontrado nas Câmaras Municipais e Assembleias Legislativas. Assim sendo, você deve se informar neles como sair das dívidas, em seu próprio estado.
Cooperativismo de crédito
Cooperativas de crédito podem ser solução para quem deseja ajuda para alavancar seus negócios. Também facilitam a vida de quem quer saber como sair das dívidas. Foram regulamentadas em 2009 pelo Banco Central e possuem proteção legal, desde que registradas devidamente.
Nela, uma associação de pessoas presta serviços financeiros exclusivamente aos seus associados. Os cooperados são ao mesmo tempo donos e usuários da cooperativa, participando de sua gestão e usufruindo de seus produtos e serviços.
Quem participa desse tipo de associação conta com vários serviços disponíveis em instituições bancárias. O cooperado tem conta-corrente, aplicações financeiras, cartão de crédito, empréstimos e financiamentos.
Outra particularidade é a de que os associados têm poder igual de voto. E isso não depende do valor da cota de participação no capital social da cooperativa.
As taxas menores e mais flexíveis, bem como o atendimento personalizado, são marcas do cooperativismo de crédito. A diferença para outros sistemas é que, no cooperativismo, não existe a visão do lucro.
Ao final do ano, todo resultado positivo obtido pela associação é revertido para os seus integrantes. São as chamadas sobras. O dinheiro, que em um banco seria considerado lucro, é dividido entre os participantes da cooperativa.
E os prejuízos também. As perdas são divididas de acordo com a participação de cada associado nos resultados finais da cooperativa.
Em síntese, as cooperativas de crédito são autorizadas e supervisionadas pelo Banco Central, ao contrário dos outros ramos do cooperativismo, tais como transporte, educação e agropecuária.
Luz no fim do túnel
Apesar de tudo, para as milhares de famílias que ampliaram suas dívidas durante a pandemia, o momento é de colocar a cabeça no lugar. Primeiramente, Myrian Lund dá uma mensagem positiva e de força para os endividados e suas famílias:
“Nada de desespero, nada de depressão. Você tem que tentar e buscar a solução. Então, começando por ter uma conta livre de cheque especial, livre de cartão de crédito, livre de dívidas, para você poder usar o seu salário ou o que sobrar do seu salário, se tiver empréstimo consignado. Eu garanto que a sua vida vai mudar.
“E na hora que a gente começa a agir, o universo conspira a nosso favor. Não me pergunte como. Mas as coisas acontecem. E garanto que você vai ter um retorno surpreendente. Porque as pessoas que Iniciam esse processo todas elas conseguem liquidar com um prazo menor do que o esperado.
Ou seja, vão acontecer verdadeiros milagres. É como se houvesse uma ajuda do universo diretamente para você”.
Conclusão
Em resumo, o crédito não é ruim. Não deve ser encarado como um palavrão. Assim, o crédito, quando bem feito, planejado de modo consciente, é um excelente instrumento para alavancar sua vida. Ele só é ruim quando não foi planejado. Do contrário, sem planejamento, você não terá como sair das dívidas.
Então, vamos nos organizar e aprender a fazer todo o possível para que um crédito bem feito sirva para nossa vida futura.
O que você acha das sugestões da planejadora financeira Myrian Lund? Mande este texto para seus familiares, e boa sorte. Dessa forma, com a ajuda de todos da família, e de você mesmo, é possível encontrar os atalhos e atitudes que vão possibilitar a realização do sonho de 70% das famílias brasileiras neste momento: Como sair das dívidas para sempre e nunca mais cair nas armadilhas do crédito fácil.