Uma conduta íntegra, honesta, justa e humanizada são atributos valorizados e esperados no mundo dos negócios e na vida social. Todavia, os exemplos que ganham destaque na atualidade nas empresas parecem caminhar na contramão destas regras. Mas as cooperativas se enquadrariam nesta (a)ética “(in)comum”, ou seja, faça o que digo, mas não o que faço?
Para o sociólogo francês Henri Desroché (1914-1994), as cooperativas têm, em sua gênese, não apenas uma ética, mas várias éticas, as quais somadas tem o potencial de estabelecer uma outra conduta empresarial e social.
A primeira é a ética da criatividade, a qual consiste na forma na qual se organiza as pessoas e se construir as redes técnicas e humanas, sem desconsiderar regras anteriormente existentes nos espaços de vida e trabalho. Esta criatividade envolve a forma de estabelecer o alcance e a penetração econômica e geográfica das cooperativas, promotora de inclusão e integração global. Esta criatividade não implica em dominar um setor, eliminando o concorrente, mas sim estabelecer opções viáveis para novas formas de negociação.
A segunda é a ética da solidariedade, representada na forma singular de divisão de resultados obtidos através da cooperativa, bem como na igualdade de participação dos associados nas decisões. Vale destacar que não se pode confundir a ética da solidariedade com beneficência, com doação para obras sociais ou simplesmente a troca, a permuta de mercadorias ou de capital entre as pessoas.
A terceira é a ética da ecumenicidade, expressada através da neutralidade das cooperativas no sentido do apartidarismo das ações e reações. A ética da ecumenicidade representa o respeito às opiniões e posições, mesmo que contrárias. Esta ecumenicidade significa não estar atrelado a obediências ideológicas ou confessionais.
A quarta é a ética da responsabilidade, a qual valoriza e enfatiza as possibilidades do ser humano para assumir a programação das ações, sem fantasiar, sem exagerar, buscando obter resultados planejados. Ou seja, não basta apenas ter boas intenções. É necessário esforço e comportamento para obter resultados fixados.
O somatório destas éticas resulta na ética cooperativa, as quais podem nortear práticas de cooperação capazes de fomentar e consolidar uma nova situação. Esta prática de cooperação vai além da ação econômica, sendo também moral. Esta prática não incentiva o conflito, não estimula a revolução beligerante. Tão pouco esta prática apela para a ação coercitiva das leis.
Decerto que a construção de outra realidade, de outra prática empresaria e social está presente no seio da proposta, no projeto de cada cooperativa. E a ética cooperativa pode ter grande amplitude, gerar um amplo impacto.
A construção desta ética cooperativa é diária, estando sedimentadas nas forças morais, individuais e coletivas, as quais podem ser reconciliadas para força da cooperação. E ao mesmo tempo, guarda uma complexidade, possível de ser equacionada, considerando as especificidades e particularidades de cada grupo. É um processo lento, gradual e por vezes quase imperceptível, mas possível de ser alcançado. E sendo buscado e realizado, fazer a diferença na sociedade.