Segundo a Nota de Conjuntura 13, do IPEA, o agronegócio encerrou outubro com um superávit de US$ 12,8 bilhões, mantendo o patamar mensal observado desde março deste ano. O desempenho compensou o déficit apresentado pelos demais setores da economia (US$ 8,9 bilhões em outubro), e contribuiu para o superávit de US$ 3,9 bilhões da balança comercial total do país no mês. Os dados são de Virgilio Marques do Santos, CEO da FM2S Educação e Consultoria demonstram a força do agronegócio na balança comercial do Brasil.
Veja o texto de Virgílio Marques dos Santos sobre o Superávit do Agro
Comparando com o resultado de outubro de 2021, o resultado cresceu 61,3% e as exportações se mantiveram estáveis. No acumulado do ano, o superávit do agronegócio totaliza US$ 121,8 bilhões, decorrente de US$ 136,1 bilhões de exportações – alta de 33,0% em relação ao mesmo período do ano passado. As importações também apresentaram crescimento, alcançando US$ 14,3 bilhões no mês, ou alta de 13,2% na mesma base de comparação.
Para fins de comparação, no mesmo período, os demais setores exportaram US$ 144,6 bilhões (alta de 8,3%) e importaram US$ 215,0 bilhões (alta de 30,5%), levando a um déficit de US$ 70,4 bilhões no período. Com isso, o superávit total da economia alcançou US$ 51,3 bilhões, valor 12,2% abaixo do observado entre janeiro e outubro do ano passado.
48,5% do valor exportado pelo Brasil veio do agronegócio. Já nas importações, apenas 6,2% veio do setor. Com esses números, fica clara a importância do agronegócio na balança comercial brasileira e na nossa economia. E, dessa forma, deve-se refletir: como replicar para os outros setores o mesmo desenvolvimento?
2022: O patamar exportado pelo agronegócio mudou
Em 2022, a alta dos preços médios contribuiu para o aumento do valor exportado, compensando a queda na quantidade embarcada em alguns produtos. O resultado mantinha-se, mesmo com a desaceleração do preço médio. No entanto, em outubro, foi observada queda na variação do preço médio (-4,8%) comparativamente a 2021.
Dessa vez, o crescimento de 69,4% no volume exportado ante igual mês do ano passado foi beneficiado principalmente pela quantidade embarcada de produtos do agronegócio, mostrando que o setor está mais sólido ainda.
Um fator digno de nota é a preocupação do agronegócio em profissionalizar sua gestão. Quando começamos a empresa, em 2015, éramos pouco procurados para a realização de projetos no setor. Atualmente, a procura aumentou e muito. Como dica de carreira, o setor irá absorver muitos profissionais da área de gestão e excelência operacional. Nossos alunos e assinantes que gostam dessa área terão muitas oportunidades para decolarem na carreira se investirem aí.
E quais os produtos mais exportados? Entre os principais da pauta de exportação do agronegócio em outubro, destacam-se:
● Soja em grãos: 17,5% do total da pauta;
● Milho: com 14,3% do total da pauta;
● Açúcar, com 10,5% do total da pauta;
● Carne bovina, com 8,4% do total da pauta.
A soja em grãos participa do complexo soja, que inclui ainda farelo de soja e óleo de soja. Os dois últimos equivalem em valor a 8,4% do total exportado pelo setor; mesmo tendo ainda uma participação relativamente menor em comparação com as demais commodities, são dois produtos que vêm apresentando alta desde 2021.
Já o milho, após forte elevação da quantidade exportada, 301,7% ante igual mês de 2021, em conjunto com forte elevação do preço médio de venda (38,9%), totalizou valor exportado de US$ 2 bilhões. De fato, o bom desempenho das safras de verão e inverno do milho proporcionou uma vantagem do Brasil no mercado internacional.
Nesse caso, pode-se afirmar que a tecnologia embarcada na produção do milho encontrou as condições internacionais ideais.
Outros dois produtos brasileiros que bombaram em outubro: o açúcar, com crescimento de 62,3% na quantidade e de 11,6% no preço médio, e o algodão, com 28,5% e 21,9%, em relação a igual período do ano passado. Ambos também foram beneficiados pela alta na produção e por condições favoráveis no mercado internacional.
Já em relação às proteínas animais, tem-se:
● As exportações de carne bovina tiveram crescimento na quantidade (96,4%) e alta do preço médio (12,5%) da tonelada embarcada no mês comparativamente a outubro de 2021;
● As exportações de carne suína tiveram queda (-0,4%) em outubro, o que já vinha sendo observado nos meses anteriores;
● As exportações de carne de frango apresentaram queda em quantidade (-0,7%) no mês, mas tiveram boa elevação do preço médio (15,8%).
Por fim, as exportações de produtos florestais tiveram alta da quantidade embarcada de celulose (59,1%), levando o valor das vendas do grupo a uma alta de 20,7% diante do apurado em outubro de 2021.
Mas e a história dos insumos agrícolas com a guerra da Ucrânia?
O valor importado de fertilizantes em outubro registrou retração pelo terceiro mês consecutivo, com US$ 1,6 bilhão, 21,9% inferior ao observado em igual mês de 2021.
Essa retração deve-se à queda nas quantidades importadas (39,7%), que já estão em patamares abaixo dos observados em outubro dos últimos três anos. O preço médio dos fertilizantes importados mantém alta de 29,7% no mês, mas em contínua desaceleração em relação ao salto observado no segundo semestre de 2021 e agravado no primeiro trimestre de 2022, com a eclosão do conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
Resumindo, as importações de adubos e fertilizantes pelo Brasil subiram neste ano com a antecipação de compras no segundo trimestre devido ao receio de escassez de oferta mundial. Isso, como no conhecido artigo do MIT sobre o efeito chicote, bagunçou os preços.
A formação desse estoque estratégico garantiu a quantidade necessária desses insumos para a preparação do solo para a safra de 2022-2023, mas gerou um problema de falta de armazéns para a manutenção do fluxo importador, o que levou à queda do volume em agosto e setembro. Além disso, o IPEA reforça o impacto nos custos do agronegócio brasileiro, que deverá registrar uma menor intensidade no uso desses insumos na atividade agrícola do atual ciclo.
Mercado aquecido, preços em alta e insumos mais caros explicam um pouco mais a corrida do setor para aumentar seus níveis de produtividade e profissionalização. Cada vez mais, o campo está colocando tecnologia brasileira em seus produtos e, com isso, trazendo riqueza para o Brasil. Imaginem quando os governos mergulharem na história de replicar o sucesso do agronegócio para outros setores, como nossa carcomida indústria. Imaginem só o potencial de geração de empregos com renda per capita considerável e o quanto isso melhoraria as condições de vida do nosso país.
Sobre o autor
Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica