Alguns dirigentes de cooperativas de crédito ficam indignados quando perdem um cooperado para o Nubank ou para o Banco Inter. Talvez esteja faltando entender que são modelos de negócios diferentes. Embora os chamados bancos digitais possam representar alguma ameaça, comparar com o cooperativismo seria como confundir “alhos com bugalhos”.
Esse modelo oferece a facilidade digital e confere crédito por meio de cartões virtuais aos clientes, principalmente jovens, com pouca renda ou sem histórico de relacionamento. Provoca desassossego nas instituições tradicionais, incluindo as cooperativas de crédito, é verdade, mas isso não chega a ser ruim.
Essas empresas têm seu próprio modelo de negócios. Investem pesadamente, à custa do resultado operacional, para aumentar sua base de clientes e seu valor de mercado. Isso é muito diferente do cooperativismo de crédito que, dentre outros investimentos, investe também tempo e recursos no relacionamento e no estabelecimento da confiança.
Nas cooperativas existe o propósito, um diferencial que nenhum algoritmo pode reproduzir. Ser vanguarda na tecnologia é possível para os bancos centrados em plataformas, mas reproduzir o propósito é pouco provável.
Os aflitos companheiros cooperativistas devem entender que nossos valores intangíveis – nosso propósito – precisam ser percebidos para sermos cada vez mais fortes e maiores. Isso não significa que iremos ficar a reboque da tecnologia e que não iremos nos preocupar com a constante capacitação.
Tenho advogado a respeito de um valor inatacável para ser assumido como item estratégico no planejamento das cooperativas: investimentos em sustentabilidade. O mundo pós-pandemia irá valorizar e clamar por isso. É preciso ir além de projetos isolados. Cuidados com o meio ambiente, os resíduos sólidos e a geração de energia limpa precisam constituir um conceito ou uma cláusula pétrea do cooperativismo. Além de todos os benefícios, ainda estaremos em consonância com três dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
A crise na saúde confere ao cooperativismo uma oportunidade de voltar-se para si, contemplar seus princípios e assumir sua personalidade. Nesses quesitos e em qualidade, o cooperativismo é incomparável.