A inflação de março para as famílias que vivem com até 2,5 salários-mínimos subiu 0,82% segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a planejadora financeira Myrian Lund alerta cooperativas e consumidores a terem mais atenção aos reajustes excessivos nos contratos.
De acordo com a FGV, março superou fevereiro em relação aos aumentos. Em síntese, a taxa foi de 0,40% no segundo mês do ano. O Índice de Preços ao Consumidor Classe 1 (IPC C1) acumula alta de 6,63% nos últimos 12 meses, também acima do Índice de Preços ao Consumidor-Brasil, que mede a inflação para todas as faixas de renda e que no mesmo período acumula alta de 6,10%.
Segundo a FGV, a alta do IPC-C1 de março foi puxada pelos reajustes nos preços dos combustíveis, principalmente do gás de botijão, que tem peso grande no orçamento das famílias menos favorecidas. Por outro lado, houve queda nos preços do leite e do arroz, dois importantes itens na cesta de compras dos mais pobres.
Myrian Lund explica que temos dois indicadores de inflação no Brasil.
“ O IPCA, medido pelo IBGE é considerado a inflação oficial do país. A gente tem um outro indicador que é o que é medido pela FGV com outros indexadores. Ele é 60% índice de preços no atacado, 30% do índice de preço ao consumidor e 10% construção civil. É um índice diferente”.
Hora de rever contratos
Na avaliação da especialista, é hora de conter o consumo, pois a tendência é de aumento da inflação. Ela falou ao programa CoopCafé, do portal BR Cooperativo:
“O IGP-M está extremamente elevado. Mais de 26% ao ano. E ele reajusta diversos serviços, como aluguéis. Eu inclusive tenho fazer esse alerta aqui, para todo mundo reparar os contratos que têm de prestação de serviço. Então seja cooperativa seja a pessoa física, todo mundo revejam seus contratos”.
Myrian alerta para o fado de que os reajustes tendem a ser na casa dos 26%. Mas se você negociar, a taxa pode cair bastante:
“ Eu sou síndica do meu prédio. O contrato da administradora veio com 26,5% de renovação. A manutenção de serviço do elevador, 8%. Eu estou ligando para todo mundo e pedindo para baixar para 5%. O reajuste da inflação oficial IPCA está dando 5,2% ao ano”, disse.
Myrian também explica a diferença entre os itens. A FGV mede uma cesta um pouco diferente, e está em 6,2%. Já o IPCA está dando 5,2% ao ano. Para o consumidor a diferença não fica tão evidente.
“Então, a taxa de 5% ou 6% é que você precisa ter em mente. Não aceite reajuste maior do que isso”, disse.
Inflação acima da meta
Em outras palavras, a taxa de inflação está fugindo da meta estipulada pelo governo. E os motivos são a alta do dólar, o preço do combustível subindo. Isto provoca um impacto indireto nos produtos. Diante disso, a planejadora financeira faz outro alerta:
“Tente rever todos os contratos. A inflação de 0,82% é muito alta. Tao mês. Estão sentindo, não? Quando a gente vai no mercado, quando a gente está fazendo as compras, está tudo disparando. Esse ano vai ser mais difícil para todo mundo. Estão faltando produtos tem fábricas pararam de funcionar. Falando produto, tudo fica mais caro”.
Myrian disse que foi comprar uma lixeira e não e encontrou no mercado. Então, a próxima virá mais cara.
E os motivos são a pandemia da covid-19 e a falta da aprovação da reforma administrativa, da reforma fiscal. O país gasta mais do que arrecada. Enquanto não houver uma reforma fiscal e administrativa, teremos dólar alto e produtos caros.
Mas nem tudo está perdido. Ela sugere a todos começar a guardar o máximo de dinheiro e ter uma reserva de emergência. Rever os gastos. Segundo ela, isso traz felicidade. Myrian cita o resultado de uma pesquisa de felicidade. O estudo diz que quem tem reserva de emergência são as pessoas mais felizes do mundo. “Então, é a reserva de emergência traz paz e conforto, não é? Estamos sendo convidados a reduzir o consumo. Reduza o máximo de consumo que puder”, alerta.
Enriquecendo na pobreza
Apesar de tantos brasileiros entrando na linha de pobreza, alguns conseguem ficar ainda mais ricos. A revista Forbes incluiu 11 novos brasileiros no ranking de bilionários. Para Myrian Lund, o fato ilustra a diferença entre o cooperativismo e o capitalismo financeiro:
Vivemos um momento onde apesar da pandemia, apesar da crise, tem muitas oportunidades de negócio. O Nubank é um que cresceu muito. Investidores aproveitaram para investir neste momento. Isso realmente é uma coisa do capitalismo. O ideal seria se houvesse mais distribuição de renda, né? E o dinheiro da classe trabalhadora, uma classe mais baixa, né? Mas a gente ainda está muito focada no capitalismo. Então, esse movimento acaba acontecendo neste momento onde tudo é possível. Você começa a ver muita gente enriquecer também nas mídias sociais. A pessoa sem conteúdo acaba cheia de dinheiro. A gente está indo no extremo para voltar para o meio. então eu acho que daqui a pouco a gente esteja caminhando para um outro movimento. Aí eu acho que o movimento cooperativo contribui bastante para uma distribuição de renda para a população, né? Então é uma tendência é haver essa mudança.