A determinação do governo de vacinar os profissionais de linha de frente não atendeu ao objetivo a que se propôs inicialmente. Uma das especialidades médicas mais importantes no combate à Covid-19 enfrenta dificuldades para garantir a imunização a todos os profissionais. Isso porque, apesar das tentativas e várias conversas com hospitais e com as Secretarias Estadual e Municipal de Saúde, diversos anestesistas ainda não estão vacinados.
O impacto desse cenário é preocupante. Quando todos seguem medidas restritivas para evitar a disseminação do contágio, os pacientes que se encontram nos hospitais podem ficar sem atendimento no procedimento de intubação caso os anestesistas precisem se afastar em virtude de contaminação. Isso porque, o manejo de vias aéreas é especialidade desses profissionais, que, durante a pandemia, salvaram centenas de vidas aplicando os protocolos específicos para os casos de Covid-19. É o anestesista quem entuba o paciente que está contaminado para se submeter a cirurgias diversas sejam motivadas pelo avanço do vírus ou não. Muitos deles estão atuando em plantões de urgência, lidando com casos graves que precisam ser encaminhados à UTI; e mesmo os que se dedicam a cirurgias eletivas correm risco pelo contato com as vias aéreas dos pacientes. O alto grau de exposição já resultou na morte de anestesistas por contaminação, daí a urgente preocupação da classe em garantir a proteção dos profissionais, que precisam continuar os atendimentos nos hospitais.
Em uma primeira conversa com a Secretaria de Saúde do Estado, o órgão deu o prazo de sete dias para que os anestesistas recebessem a vacina. O prazo expirou na última terça-feira e a situação permaneceu a mesma. Diante disso, os anestesistas que são organizados em cooperativa entraram em contato com a esfera municipal, mas nenhuma data foi agendada. “Não sabemos o porquê da exclusão. Quando começamos a perceber o que estava acontecendo, tentamos conversar com a secretaria estadual e deixamos lá a lista dos plantonistas com atuação na linha de frente que precisavam da imunização, mas nada foi feito”, afirmou o diretor secretário da Coopanest-PE, Gilberto Reis.
Em um primeiro anúncio, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que todos os profissionais com atuação em bloco cirúrgico seriam vacinados. Diante disso, os anestesistas aguardaram a sua vez. Entretanto, a promessa não foi cumprida e outras pessoas, menos expostas, passaram a receber a vacina, incluindo atendentes de centros de diagnóstico, profissionais que coletam materiais para laboratórios e até mesmo manobristas desses espaços. “Queremos entender a lógica do critério utilizado. Há profissionais que trabalham ao ar livre que já foram vacinados, enquanto muitos anestesistas, que atuam dentro de ambientes fechados, manipulando vias aéreas de pacientes contaminados estão desprotegidos. Estamos buscando apenas isonomia”, afirmou a presidente da Coopanest-PE, Simone Buonora.
Recife vai na contramão de outras cidades brasileiras, que garantiram a vacinação da classe, e fica atrás também dentro do próprio estado, tendo em vista que a cidade de Olinda já garantiu a imunização dos anestesistas. A situação chama ainda atenção pelo fato de que anestesistas do quadro fixo dos hospitais públicos, sujeitos ao regime estatutário de servidores, já foram vacinados. Tais profissionais trabalham diariamente com os colegas terceirizados, que aguardam a imunização, exercendo os mesmos procedimentos e se expondo aos mesmos riscos. Alguns dos anestesistas expostos têm, inclusive, mais de 60 anos, e continuam atuando haja vista o alto número de pacientes nos hospitais públicos e privados, arriscando a própria vida e de seus familiares.
Segunda dose
Para os anestesistas que conseguiram se vacinar, o contexto é de insegurança e incerteza quanto à aplicação da segunda dose. Não há ainda data certa para essa imunização e, caso a vacina não seja aplicada novamente no prazo entre 15 e 28 dias, a contar da primeira dose, não possuirá sua eficácia completa. Isso significa mais de 600 profissionais expostos na linha de frente atuando nos hospitais do Recife.
Fonte: Coopanest-PE.