Você já ouviu falar na Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA), no Pará? Pois bem, ela é um verdadeiro símbolo da integração entre tradição e inovação no campo brasileiro. Criada por imigrantes japoneses em 1929, a cooperativa carrega consigo 94 anos de história — uma trajetória marcada por aprendizado, superação e transformação.
Alberto Oppata, presidente da CAMTA, foi um dos painelistas do seminário “O Impacto do Cooperativismo no Desenvolvimento Braileiro”, promovido pela OCB em parceria com o BNDES, evento ocorrido em 10 de abril de 2025, no auditório do Banco.
Das monoculturas aos sistemas agroflorestais
Oppata contou a história dos imigrantes no Brasil e omo eles cooperam com o agro no país. Inicialmente, os imigrantes japoneses viram na monocultura a possibilidade de desenvolvimento. Porém, logo que surgiram os problemas típicos desse modelo, como o esgotamento do solo e a baixa resiliência ambiental, foi preciso mudar de estratégia. Foi então, na década de 1970, que a CAMTA introduziu os sistemas agroflorestais consorciados — hoje conhecidos como SAFT (Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu).
Esse modelo inovador foi estudado por mais de 10 anos em parceria com a Natura, a EMBRAPA e outros órgãos de pesquisa, para avaliar sua viabilidade econômica e ambiental. O resultado? Um sistema sustentável que alia tecnologia de ponta aos saberes tradicionais, promovendo renda de curto, médio e longo prazo para os produtores da região.
Cooperativismo na CAMTA
Atualmente, a CAMTA reúne 172 cooperados e mais de 1.800 agricultores cadastrados, impactando diretamente cerca de 10.000 pessoas. Essa estrutura movimenta a principal atividade econômica de Tomé-Açu e região, com base no cultivo sustentável, na valorização das comunidades e no respeito ao meio ambiente.
Aliás, a cooperativa já beneficiou mais de 1.000 famílias de agricultores familiares com seu projeto socioambiental, disseminando práticas agroecológicas em 25 comunidades no Brasil, Bolívia e Gana.
Agrofloresta: renda, dignidade e preservação
Mas afinal, por que o sistema agroflorestal é tão eficiente? Porque ele não exige desmatamento. Pelo contrário: promove a renovação de áreas degradadas, muitas delas cultivadas desde os anos 70, sem necessidade de queima. Um exemplo disso é o uso do tratores Tritucap, que permite renovar o solo de forma limpa, mantendo o equilíbrio do ecossistema.
Além disso, os sistemas agroflorestais criam microclimas ideais para o desenvolvimento de minhocas, abelhas e outros polinizadores, melhorando a fertilidade do solo com húmus natural. Ao mesmo tempo, ajudam a fixar o homem no campo, garantindo condições dignas de vida para quem vive da terra.
Para se ter uma ideia, com apenas 10 hectares, uma família composta por pai, mãe e filho pode gerar até 10 salários mínimos por mês, cuidando de seus próprios lotes de forma sustentável e produtiva.
Faturamento recorde e exportação internacional
De acordo om Oppata, a CAMTA alcançou em 2023 um faturamento recorde de R$ 120 milhões, impulsionado principalmente pelo aumento no preço do cacau, que saltou de R$ 2.000 para até R$ 9.000 a tonelada. Simultaneamente, o açaí se tornou um dos produtos mais exportados, consolidando-se como carro-chefe da cooperativa.
Hoje, a produção da CAMTA chega a Japão, Alemanha, França, Israel, México, Argentina e Estados Unidos, com destaque também para a exportação de pimenta-do-reino e polpa de frutas.
Desafios e próximos passos
Apesar do sucesso, a cooperativa ainda enfrenta grandes desafios. É urgente investir em automação, painéis solares, produção de adubo organomineral e ampliação dos viveiros agroflorestais. Além disso, a criação de uma patrulha mecanizada é essencial para ampliar a renovação de áreas sem queima.
O tripé que sustenta esse avanço — adubo, viveiro e mecanização — precisa de apoio técnico e financeiro. Conforme destaca Alberto Oppata, o grande obstáculo para o desenvolvimento é o acesso ao crédito rural, ainda limitado devido à inadimplência em algumas regiões. Com crédito, seria possível ampliar o impacto e gerar ainda mais empregos.
CAMTA: um modelo que inspira
Enfim, a CAMTA representa muito mais do que uma cooperativa: é um modelo real de desenvolvimento sustentável, socialmente justo e economicamente viável. Por isso, merece ser apoiada, estudada e replicada.
A pergunta que fica é: se é possível fazer tudo isso na Amazônia com respeito à natureza, por que ainda insistimos em modelos ultrapassados?

































